Aperte Play para Transição
Mensagens de força e de apoio podem vir em diversas palavras, e apenas uma pode mobilizar muitas pessoas. Percebe-se como o Brasil está em clima de mudança e como uma palavra move muitos. Como se apertassem o botão Play para tocar uma bela música.
Representantes de São Paulo e Rio de Janeiro se reuniram no último sábado, para o Segundo encontro nacional Transition Tows, no CEU Jardim Paulistano, Brasilândia. O evento reuniu também a Oficina da Sustentabilidade e líderes do bairro, para compartilhar suas experiências e reforçar os laços de parceria com novos contatos.
Mesmo com um dia frio no início da manhã, nem a equipe organizadora e convidados deixaram de participar do encontro, que permite melhorar a consciência da política comunitária e de seus efeitos na sociedade civil.
A primeira rodada se resumiu numa roda para conhecer cada integrante, e qual mensagem ele iria agregar ao grupo. Beleza, Transformação, Inspiração, Harmonia, Contentamento, Resiliência, Perdão, Propósito, Rendição, Intenção e Liberdade.
Essas foram as palavras que cada participante sorteou para si no primeiro instante do encontro:
Beleza, para observar a força da união e dos atos positivos de quando dela ocorrem;
Transformação, para perceber o que é preciso manter e o que precisa mudar para se atingir o melhor numa comunidade, grupo ou projeto;
Inspiração, para observar cada detalhe e notar que tudo é importante para realizar belos atos;
Harmonia, em manter a energia positiva do grupo sempre ativa, mesmo diante do cansaço ou de momentos difíceis;
Contentamento, em ver que o foco, a percepção e pequenas atitudes bastam em alguns instantes para transformar as coisas;
Resiliência, para equilibrar as energias e resistir ao que for necessário diante de desafios, quando precisa-se manter bem em prol da equipe;
Perdão, para libertar-se de fardos carregados por escolha ou responsabilidade de trabalhos e saber que todos podem conviver bem;
Propósito, para saber que todos têm sua importância no grupo, cada parte de um todo, forma e engendra grandes obras;
Rendição, para se doar por uma causa e ter disciplina para não sair desse caminho de bons atos pelo grupo e comunidade;
Intenção, para querer fazer parte de um projeto novo, de querer ter forças para ajudar o próximo, mesmo quando não se tem mais energia. Mas saber que o companheiro ao lado fará o mesmo por você;
Liberdade, para abrir a consciência de que em grupo, pode-se executar qualquer coisa.
A segunda rodada apresentou a história do movimento Transition Towns e quais são seus ideais. Reduzir consumo de energia, aumentar a política de reaproveitamento, constituir melhor as relações de equipe e comunidade, dada a necessidade mais básica, a de conhecer o próximo para que minhas ações se reflitam bem e por consequência, nos traga benefícios.
Nem todos os parceiros puderam comparecer pessoalmente mas a equipe do núcleo Laranjeiras/Cosme Velho deixou uma carta para prestar o apoio e reforçar os avanços do movimento.
Segue um trecho da carta:
“Acreditamos que tudo o que está acontecendo no mundo e no Brasil só confirma o quão fértil é o campo da transição. Agora as soluções se fazem necessárias. Depois das grandes reivindicações gerais do povo nas ruas, fica a necessidade da objetividade, do discurso afinado e preparado, pronto para articular as pontes entre a sociedade e os especialistas que dominam as ferramentas permaculturais e tecnologias sociais para manifestar o novo mundo que queremos.”
Segundo a equipe, ainda há obstáculos para serem superados e muito a avançar, na busca por exemplo de mais resiliência para executar os novos projetos.
Pensando a longo prazo, o grupo espera atingir uma renovação da rede e seus integrantes e a realização de seus projetos , como o Prédios Sustentáveis, que busca soluções de reeducação e sensibilização em condomínios.
Seguindo o roteiro, foram apresentados cases de comunidades que se desenvolveram sob as políticas sustentáveis, como a Casa da Videira, em Curitiba, onde os integrantes criam hortas sustentáveis, programas de reutilização de lixo doméstico e educação ambiental.
Outro exemplo de superação e trabalho em equipe foi do Conjunto Palmeiras, favela no Ceará, onde foi instituído o primeiro banco comunitário do Brasil e políticas públicas gestadas em comunidade, sem necessidade de órgãos públicos , no início de sua criação.
Anteriormente motivo de vergonha na hora de buscar emprego em cidades vizinhas, durante o final dos anos 1970, a população se organizou em criar sua própria estrutura, em que suas necessidades fossem atendidas. Com uma associação de bairro criada em 1981, a população do conjunto foi se tornando cada vez mais ativa.
O resultado, empresas que não competem entre si, formadas por cooperativas, onde cada integrante é treinado para executar um determinado trabalho, como fabricar produtos de limpeza, ou alimentícios, e tudo isso por meio de uma moeda local, uma base de troca mais justa, visto que a população carecia de renda.
Dessa política, em 1997, surgiu o Banco Palmas, o primeiro na sua categoria, em criação de micro-crédito para comunidades e que permitiu um desenvolvimento sadio de uma comunidade que não recebia apoio de prefeitura ou governo locais.
Esses exemplos apresentados no encontro reforçaram como é simples a visualização de uma sociedade que cresça baseada na união de forças complementares, e não necessariamente na geração de renda. O bem estar do grupo seria o foco e o sucesso, garantido.
Terminadas as apresentações, todos fizeram um tour pelas vielas da Brasilândia e pela geodésica instalada no CEU, para entrarem em contato com o núcleo local e planejarem novas ações. Na conclusão, um plantio simbólico de 22 mudas de pitangueira, boldo miúdo, rosinha do sol, gerânio, nas áreas verdes da escola.
Texto e fotos por Wilson Monticelli